sexta-feira, 6 de novembro de 2009

INTOLERÂNCIA

Aproveitei o feriado prolongado para atualizar minhas leituras, e ao ler uma reportagem na revista Nova Escola, setembro, nº 225, me chamou à atenção o resultado de uma pesquisa abordando o preconceito nas escolas públicas de todo o Brasil.
Segundo o estudo, feito pela Fundação de Pesquisas Econômicas – FIPE no primeiro semestre de 2009, com mais de 500 escolas públicas em todo o País, em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INPE, foi detectado um índice preocupante de intolerância (preconceito) entre alunos, professores e pais.
A pesquisa aponta que 99,3% dos entrevistados não toleram diferenças; dos quais 96,5% em relação às necessidades especiais. Logo no aspecto - inclusão social - em que o Brasil já vem trabalhando nas escolas há alguns anos, principalmente nas escolas públicas.
Esse fator na pesquisa vem comprovar algo que já escrevi num conceituado jornal acerca de um ano atrás: que a forma como se quer incluir os portadores de necessidades especiais nas escolas públicas está equivocada, pois não se trabalhou o outro lado: o aluno, os pais e, principalmente, os professores que nem sempre têm o perfil para lidar com essa demanda na escola. Sem falar que ele se vê na obrigação de trabalhar algo que o deixa extremamente descontente, situação que pode se tornar propícia à geração do preconceito.
No segundo item, étnico-racial, 94,2% dos entrevistados afirmam não tolerar a diferenças de raças, confirmando que o que vem sendo desenvolvido nas escolas públicas não tem surtido o efeito desejado ou subestimando os ensinamentos escolares diante da escola da vida, já que o preconceito racial se mantém no mesmo patamar nas escolas.
Quanto ao fator geracional, 91% das pessoas pesquisadas não toleram a terceira idade. A pesquisa aqui também me chama a atenção, já que nos próximos vinte anos, nossa população passará de maioria jovem, para maioria idosa (terceira idade, melhor idade).
Os demais itens mencionados na pesquisa, apontam que na questão do gênero, 93,5% dos entrevistados também não toleram o outro; na questão socioeconômica o índice é apenas um pouco menor, 87,5%, pouca diferença em relação à orientação sexual, que figura na pesquisa com 83,3%. A intolerância quanto ao local (território) de origem das pessoas também preocupa com 75,9%.
O certo é que a pesquisa faz um alerta importante às instituições que gerenciam a educação no País e, sobretudo, nos estados, já que os dados foram extraídos nas escolas públicas, instrumento importante de dados para rever políticas públicas de educação. Para isso, precisamos levantar hipóteses: qual o impacto desses comportamentos no futuro da sociedade, se não tomarmos uma providência hoje?
Tenho lido alguns textos sobre o pensador teólogo e filósofo Austríaco Martin Buber (1889 – 1945), um humanista nato, que em suas teses, defende no processo educativo privilegiar a conversa e a cooperação entre as pessoas. O saber fruto do bom relacionamento é mais importante do que o sucesso do saber individual do egoísta. O ser bem sucedido hoje é algo praticado pelas escolas e famílias, o que privilegia o ter em detrimento do ser, gerando assim preconceitos.
Segundo o autor, temos que deixar o eu no segundo plano, colocando em primeiro o nós, a coletividade. A pesquisa mostra claramente que o comportamento dos nossos alunos, professores e pais, está completamente invertido, sendo necessária uma intervenção do Estado. É importante elaborar, a partir dos dados, um novo modelo de política pública para a educação brasileira. O estado que conseguir isso sai na frente, tornando-se modelo para os demais.