domingo, 27 de janeiro de 2008

A EJA PEDE SOCORRO!

A educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil teve início com o trabalho de catequização realizado pelos Padres Jesuítas, no período Colonial. Com o avanço econômico e tecnológico, agregou-se: mão-de-obra, qualificação e escolarização do sujeito. Mas o que é a EJA? É uma modalidade de ensino que dá oportunidade a Jovens e Adultos; que não tiveram a oportunidade no período certo por motivos diversos, a buscar a erradicação do analfabetismo. Porque não se elimina este câncer social? Acredito que por falta de continuidade nas ações governamentais, falta seriedade e compromisso por quem está no comando, na esfera Federal Estadual e municipal.
Desde a revolução, na década de 30, até os dias atuais, o Brasil vem criando mecanismos (campanhas/programas/projetos) e estes são interrompidos, pois não são ações de “Estado” e sim de “Governo”. A Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), década de 40; A Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), década de 50; Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), década de 70; e A Educação de Jovens e Adultos (EJA) anos 90; são alguns exemplos, que nos remete à reflexão da atual situação da EJA que pede socorro em conseqüência de gargalos, que são muitos e vou enumerar alguns a seguir:
1 – A carga horária de professores da EJA em sua grande maioria é complementar; profissionais que não conseguiram fechá-la no ensino regular ou tem outro cargo (Estadual/Municipal) na educação, são lotados na EJA com esta finalidade. Está na hora de debater a dedicação exclusiva na educação. 2 – A falta de profissionais com perfil para trabalhar na EJA é outro problema. Ser professor na EJA não é para qualquer profissional, tem que ter o perfil adequado, pois a metodologia tem que ser diferenciada bem como a forma de relação professor/aluno. 3 – Na formação continuada tem que se procurar enfocar: metodologia, avaliação e relação professor/aluno de forma sistêmica, sendo o mais objetivo possível. Hoje as formações de professores é uma embromação; desmotiva mais do que motiva. 4 – O tempo de aula hoje é de três horas e meia, em seis meses. Estudar o conteúdo de um ano em seis meses é um contra senso. Não podemos encarar a EJA somente para objetivar a erradicação do analfabetismo, temos que ir além disso, formar cidadãos para o mercado de trabalho, para a vida em sociedade, com qualidade. Acredito que precisamos adequar o currículo da EJA à realidade de seus alunos, bem como o tempo, poderia ser diminuída para duas horas e estender para um período de um ano. 5 – A diferença de faixa etária é outro problema: jovens e adultos possuem comportamentos diferentes. Uma determinada prática de ensino pode ser eficaz na aprendizagem do adulto, mas não para o jovem e assim vice e versa. Temos que separar o jovem do adulto na EJA, pois são realidades bem diferentes, talvez aí esteja a causa do seu alto índice de evasão.
Percebe-se que mesmo com estes gargalos no sistema da EJA, o espaço escolar ainda é para estes sujeitos, em dos poucos espaços de socialização, interação e troca de experiências (culturas), e o professor da EJA tem e deve explorar esta relação social dos alunos. Paulo Freire no seu método de alfabetização visando à libertação dá um significado especial a esta relação professor/aluno: “Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educandos, uma relação de autentico dialogo. Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizadores assumem, desde o começo da ação, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem”.
Percebe-se que ainda estamos longe de alcançar a educação para todos, pois os governos precisam implantar políticas educacionais para EJA de “Estado” e não de “Governo”, que elas sejam integradas; que os professores juntamente com a escola elaborem projetos adequados e não copiem modelos prontos; que a sociedade possa contribuir sem discriminação e sim valorizando esta modalidade de ensino tão importante para a inclusão, desenvolvimento e integração do sujeito no meio social; que os alunos possam se sentir orgulhosos de serem estudantes da EJA, valorizando a oportunidade de estudar e ampliar os seus conhecimentos. Precisamos debater o ensino na modalidade EJA, tanto externo como internamente na escola, senão esta modalidade poderá estar com os dias contados, basta ir às escolas e perceber que o número de alunos matriculados está bem abaixo da ofertada pela rede pública. Alunos existem e os motivos pelos quais não se matriculam ou evadem são os gargalos antes enunciados. Governantes que estão à frente da educação, vamos dar a atenção e assistência que a EJA merece!

4 comentários:

Vera Eliz disse...

Caro Luciano! Sou professora de EJA (Espanhol) e estou fazendo uma pós em EJA. Concordo com vc que o perfil do professor de EJA tem que ser distinto, contudo quais as ferramentas que este professor deve possuir para fazer o diferencial? Como prover o currículo? E a relação professor-aluno como deve ser? Esses questionamentos me faço todos os dias pois tenho em meu setor professores que não entram em determinadas turmas porque não "aguentam" os alunos... Gostaria que vc me desse uma idéia sobre o que pesquisar sobre isso? Gostei muito das considerações. Obrigada. Vera Elizete Chapecó-SC

Lulu disse...

Olá caro professor! Gostei muito de seus escritos; sou aluna do curso de pedagogia na UERN/CAMEAM, na cidade de Pau dos Ferros/RN e gostaria de manter contato para que assim tivesse acesso às suas ricas discussões. Luzia Dias Araújo (LULU). Aguardo contato. Abraço.

Unknown disse...

Excelente texto, é uma grande reflexão a respeito da atual situação da EJA - falta de política de Estado e não de governo. Este texto trará muita contribuição para abertura de discussao no interior das entidades de ensino. Bom trabalho.

Pesquisadora de Letras disse...

Olá Luciano, muito bom texto! Estou pesquisando sobre o tema "o perfil do professor da EJA" para meu TCC. Gostaria de saber mais algumas refencias sobre o assunto... se puder me auxiliar agradeço, pois infelizmente não há muito material disponível sobre isso na internet.
contato: keel_campos@live.com