domingo, 27 de janeiro de 2008

Base familiar, fundamental na formação do ser humano

No texto “Anjos caídos: A face oculta da infância”, Rose Campos, aborda o comportamento do ser humano na fase infantil, como a maldade, violência e que ligação genética há entre si. Aborda também a bondade, agressividade e quais são as relações existentes no comportamento com a família, escola e sociedade.
Percebe-se que o tema é muito complexo, pois cada indivíduo é diferente do outro, há crianças que são agressivas, outras calmas, existem os falantes, os calados, os tímidos e etc. Sendo assim, é difícil chegar a uma conclusão mais consistente a respeito dessas diferenças.
Mas uma verdade pode-se observar. Vários pesquisadores citados no texto, afirmam que existe uma diferença clara e lógica entre as ações de maldade e agressividade da infância em relação à fase adulta, como também é claro a importância da estrutura familiar no desenvolvimento da criança, na compreensão do seu comportamento, procurando educá-lo baseando-se, nos valores morais e éticos, sendo complementado na escola.
Quando há na escola casos de crianças com constantes comportamentos de agressividade, seja com seus colegas ou até mesmo com seus professores, percebe-se claramente que ela está pedindo por socorro chamando a atenção através da agressividade, e a ponta do “Ice Berg”, normalmente está na estrutura familiar que por uma questão social, econômica ou outra qualquer. Esta criança que não pediu para nascer, estar ali no meio destes conflitos, precisando de ajuda.
Hellen Bee e Paul Henry Mussen em seus respectivos livros “A criança em desenvolvimento” e “Desenvolvimento e Personalidade da Criança”, comentam que as crianças vivem reclamando da falta de atenção por parte dos pais. Nesta idade, é preciso que haja muito carinho e atenção com os filhos. Há pais que procuram preencher a sua ausência física ou afetiva comprando os filhos com bens materiais que os satisfaçam momentaneamente, prejudicando ainda mais a relação, a formação do caráter da criança e o seu convívio no contexto social e escolar. A família é a principal instância social de desenvolvimento, pois é através dela que se adquirem os valores, a cultura, o conhecimento de si mesmo e os padrões de adaptação social necessários ao convívio com a sociedade onde a criança é inserida, logo ao nascer.
A família é a base fundamental para a formação do sujeito e quando não há esta base, a criança fica sem um referencial, fazendo com que ela tenha comportamentos fora dos padrões da normalidade. A maldade, a raiva e a agressividade são sentimentos normais na infância, pois ela está construindo o seu mundo, seus valores. O caráter está em formação, mas tem um limite para essas reações e quando são constantemente extrapoladas, é necessário procurar ajuda de especialistas, para que no futuro o problema não se torne maior.
No livro “casa não é lar”, Ramón Llongueras Arola, diz que “a família é o primeiro e principal contexto de socialização dos seres humanos”. A criança, desde sua gestação, tem a família como um referencial para as suas necessidades e curiosidades, já que no começo a criança é totalmente dependente da família para sua sobrevivência.
Muitas famílias quando detectam tais comportamentos, procuram “jogar” literalmente as crianças nas escolas, com o intuito de resolver o problema de “mau comportamento” de seus filhos, sendo que na realidade, a educação moral é fundamentada na base familiar. A escola é responsável pela aprendizagem da criança, seu desenvolvimento cognitivo e etc. Outras questões relacionadas ao complemento educacional da criança, são de responsabilidade conjunta, família e escola.
O problema é que a grande maioria das escolas brasileira, sejam elas públicas ou particulares, não está preparada para receber a família como parceira. E nós educadores, principalmente os Orientadores Educacionais, somos o elo entre a família e a escola, e precisamos repensar nossas ações e agir com certa urgência em relação família/escola/educando, para tentarmos quebrar os paradigmas existentes nos diversos e obscuros comportamentos na fase infantil, e que sempre estará surpreendendo nós adultos e nos dando instrumentos e campo para a pesquisa sobre o comportamento e desenvolvimento do ser humano.
A banda está passando e precisamos acompanhá-la, senão teremos a cada dia que passa em nossa sociedade, menores delinqüentes, revoltados e agressivos, independentemente de classe social, como os exemplos que diariamente é noticiado pela mídia: o caso da empregada doméstica espancada por jovens no Rio de Janeiro, ou os alunos que estão agredindo professores nas escolas públicas da grande São Paulo, causando um caos social e um sentimento de impotência diante dos fatos. A responsabilidade é de todos nós, vamos assumir juntos, escola, família, Estado e sociedade, para que em curto prazo possamos diminuir as desigualdades e a violência entre crianças, adolescentes e jovens em nosso País.

A CRIANÇA, O ADOLESCENTE E O TRABALHO



Ao ler notícias e opiniões sobre o trabalho infantil, sinceramente fico num dilema terrível, justamente por causa da minha história de vida. Minha origem é de uma família de funcionários públicos, que poderia classificar na época, como “classe C” e sempre trabalhei, pois meus pais não tinham condições de me dar dinheiro todo dia para lanchar na escola, comprar papel e linha para soltar pipa, comprar brinquedos e outras bugigangas que menino gosta de comprar. Neste sentido, minha avó, que Deus a tenha, fazia no fundo do quintal de nossa casa uma pequena horta e todo dia eu saía para vender na vizinhança do Novo Horizonte, bairro no qual eu morava em Goiânia. Aos sábados fazia frete na feira, com um carrinho de rolimã que meu pai fizera, no final do dia levava para casa frutas e verduras, uns trocados e satisfação pessoal de estar sendo útil. Vendia pipas nas férias escolares, trabalhava de engraxate na avenida principal do bairro, lavava carro no hospital da OSEGO, em frente a minha casa, e até de vendedor de picolé, já trabalhei. Aos 16 anos ingressei no pró-jovem, o maior programa de inclusão de menores no mercado de trabalho que o Estado de Goiás já teve, no governo de Henrique Santillo. O certo é que nenhuma destas atividades que fiz me atrapalhou nos estudos ou na minha formação enquanto cidadão, pelo contrário contribuiu significativamente no que sou hoje.
A TV cultura está apresentando aos domingos às 18h00min, o documentário sobre o Xingu, produzido em 1980, do renomado documentarista Washington Novaes. Serão dez episódios e no último domingo 12/08, o tema foi a forma de vida das crianças nas aldeias indígenas do alto Xingu, onde mostra claramente que a criança é livre para brincar, trabalhar, caçar, pescar, participar de tudo dentro da aldeia, pois os pais e os Pajés acreditam que os pequenos índios precisam ser formados com as experiências do dia-a-dia dentro da aldeia. Não se proíbe o trabalho, é algo salutar na educação dos pequenos índios.
Assim, não consigo compreender este discurso proselitista de alguns órgãos públicos e, sobretudo de ONG’s, que criança seja proibida de trabalhar. Que criança tenha somente que brincar. Concordo que explorar física e financeiramente a criança, é errado, é crime, diante de tudo isso, faço alguns questionamentos: Onde será melhor de se ficar? Num barraco de lona sem conforto, sem comida, ou num local de trabalho (engraxando, vendendo picolé, auxiliando nas feiras etc.) onde a criança se alimenta e no final do dia, ainda leva para casa o alimento e compartilha com os demais membros de sua família? O que é melhor para a criança, ficar em casa assistindo programas de televisão vazios exibidos todos os dias, ou numa feira fazendo frete interagindo com as pessoas e ainda ganhando alguns trocados gerados pelo seu próprio suor? O que é melhor à criança? Chegar à escola comprar o seu lanche com o seu dinheiro, conquistado com o seu próprio trabalho, ou aquele dado pelo pai? Como educador, sou consciente que o melhor lugar para criança é na escola, no seu lar com a família, mas também acredito que no horário inverso ao da escola, a criança depois de fazer suas atividades escolares de casa, pode e deve perfeitamente trabalhar em algo que goste, não obrigado, mas por livre iniciativa dela, seja engraxando, seja como vendedor em alguma mercearia próxima a sua casa, na feira, ou até mesmo com os pais. A criança deve ser livre para fazer esta escolha, assim como as crianças das aldeias do alto Xingu.
O ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe o trabalho infantil, mas o mesmo não consegue criar mecanismos, para que o Estado garanta a todos os cidadãos brasileiros, sem distinção de classes, condições dignas de trabalho, educação, moradia, saúde e etc. O ECA abre espaço para programas assistencialistas como o PETI, BOLSA FAMÍLIA, PIONEIROS MIRINS e tantos outros programas governamentais que tem o resquício do passado, “dos coronéis”, que controlavam o povo com as suas migalhas, o chamado “voto de cabresto”. Não estou aqui fazendo campanha contra o ECA, pelo contrário, já se passaram uma década de sua implantação e a política Nacional para Criança e o Adolescente continuam aquém às regulamentadas pelo ECA, bem como as políticas sociais, justamente por causa do “ralo” da corrupção que predomina em todas as esferas do poder, basta assistir aos nossos telejornais diários. O ECA poderia até funcionar em países Europeus ou nos EUA, onde as políticas sociais são consolidadas e a corrupção amplamente combatida. Suas leis são de fato cumpridas. Acredito também que um dos fatores que leva as crianças e adolescentes ao envolvimento precoce com a marginalidade, independente de classe social, se dá por causa do ócio. É preciso debater esta forma de olhar “a criança, o adolescente e o trabalho”, pois o modelo atual dá sinais claros de que não está dando certo, senão teremos futuros cidadãos acostumados a receberem tudo do “Estado” e ao mesmo tempo não valorizarem, pois nunca tiveram a oportunidade digna de trabalho e, sobretudo de valorizar o ganho gerado pelo seu próprio suor.

DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR


Um fato importante que podemos destacar é: a fase de criança até a fase adulta, no período escolar do ensino fundamental e médio até a universidade. O sujeito experimenta vivências heterogêneas com os colegas que trazem consigo em suas culturas, costumes, crenças e junto com o professor é socializado em sala de aula formando um conjunto que proporciona a cada um dos membros novas experiências e relacionamentos mais fortes que marcarão sua trajetória de vida, principalmente na adolescência quando se quer dar “o grito de liberdade no lar, na escola e no meio social”. É o contexto escolar tem que saber lidar com essa rebeldia transitória que esta fase exige do sujeito.
O educador americano Stevenson, diz que “As crianças que não freqüentam a escola, além de não aprender muitos conceitos e estratégias complexas, também tem mais dificuldades para generalizar para um outro ambiente um conceito ou princípio aprendido. Portanto, freqüentar a escola ajuda as crianças a aprender, a pensar”. Este é o papel principal da escola levar o educando a pensar, a construir o seu próprio conhecimento, a partir do que é ensinado pelo professor e através das relações com seus colegas em sala. É um dos objetivos da escola estimular estas relações para que novos conhecimentos sejam construídos.
A escola precisa trabalhar o professor no sentido de que em sala de aula possa conhecer as habilidades de cada educando e trabalhá-las, para que ele possa sozinho ir descobrindo que profissão escolha no futuro, pois terá o conhecimento de suas habilidades, desta forma sua escolha profissional será menos traumática.
A qualidade escolar é outro fator preponderante para que o educando tenha um bom desenvolvimento, porque não adianta ter uma boa estrutura física, se a estrutura humana não tem preparo adequado para auxiliar na formação deste aluno.
Ramón Llongueras Arola, em seu livro “casa não é lar: o abrigo como contexto de desenvolvimento psicológico”, afirma que “Toda sociedade estabelece mecanismos próprios de ensino e de transmissão cultural, sem os quais não se pode entender a evolução de seus membros. Esses mecanismos agrupam-se em dois tipos básicos de ambientes educativos: um ambiente formal (formal setting), próprio do sistema escolar caracterizado por uma educação altamente regrada e estruturada, e um ambiente informal (informal setting), que agrupa as situações à margem da escola”.
Uma escola de qualidade tem um conjunto de fatores que eleva esta qualidade. Boa estrutura física, materiais didáticos, bibliotecas, espaço, professores bem formados, uma filosofia concreta (objetiva) e gestão autônoma. Tudo isto implica em uma boa qualidade e conseqüentemente um facilitador para o desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos.
Para os pesquisadores Estebam e Blasi, a influência do estilo de ensino e a ação didática é capaz de ordenar os fatores que influem no aprendizado eficaz do educando. A qualidade, o nível de instrução, incentivo, o tempo, são fatores variáveis que podem influenciar no desenvolvimento.
A escola não é simplesmente um abrigo obrigatório que a família tem que matricular seu filho, mas um local instituído para a construção de múltiplos conhecimentos, explorando no educando o desenvolvimento de suas inteligências que também são múltiplas e variadas.
Celso Antunes, renomado palestrante e pesquisador em seu livro “como desenvolver conteúdos explorando as inteligências múltiplas afirma que a escola nos últimos anos através de seus gestores e pesquisadores tem procurado quebrar paradigmas com uma visão inovadora no processo de ensino e aprendizado dentro de sala de aula. A escola não prepara o educando somente para o mundo do trabalho, mas também para o mundo social e afetivo e para isso temos que ter como atividade escolar, o estímulo e a educação cerebral nos nossos educandos. Segundo ele “As mudanças de paradigmas trazidas por essa nova visão da mente humana interferem, portanto, no tema da educação e trazem novas linhas de procedimentos para que a escola convencional acrescente às funções institucional, socializadora e preparadora para o mundo do trabalho uma outra, voltada ao estímulo e educação cerebral e assim, progressivamente, possa ir se transformando em um centro estimulador de inteligências”.
Nessa linha de raciocínio precisamos adaptar os conteúdos escolares a outros conteúdos que para Celso Antunes, são importantes para o desenvolvimento da aprendizagem do educando na escola, sendo um fator determinante na sua formação integral.

DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM: ESCOLA/FAMÍLIA


Durante anos a escola tinha como conceito de currículo a sistematização de disciplina, conteúdo e carga horária. Havendo assim uma educação conteúdista, onde o aluno era apenas receptor e o professor considerado o detentor do saber, tornando o sujeito no processo ensino e aprendizagem. Com isso o aluno era trabalhado apenas no que diz respeito ao aspecto cognitivo, desconsiderando os aspectos emocionais, sociais, físicos e psicológicos.
Com o decorrer da nossa política social, gradativamente as mudanças foram acontecendo, e o nosso aluno começou a ser trabalhado de maneira que estimulasse o ato de pensar e criar, tornando-se o sujeito do saber. Aspectos esses que cabem a escola valoriza-los e procurar aliados para ter melhor conhecimento deste contexto de seu aluno. Para isso é necessário à escola envolver com a comunidade/família, pois é nela que está o alicerce da formação da criança e do adolescente e por isso, não deixando de perceber e compreender o seu contexto.
Os educadores devem ter a consciência que a escola, é a base complementar da educação que família ensina em casa, e não apenas clientes a quem oferecem seus serviços. Os pais, por sua vez, devem ter no educador a confiança e o respeito de que ele está comprometido com o desenvolvimento dos alunos/filhos, assim como o seu próprio desenvolvimento.
Diante disto, é muito importante termos bem claro que dentre as importantes funções delegadas à escola, de uma forma simplista, já que se trata de um fenômeno social, que poderíamos discorrer horas sobre ele, mas a principal função é possibilitar as nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos a construção de saberes/ competências e habilidades necessárias para a vida.
Heloísa Szymanski, no livro “a família contemporânea em debate”, ressalta que “Quando resolvemos escolher um caminho de vida que é diferente daquele proposto pelo modelo, estamos criando uma condição nova, que pode vir a ser um novo pensado. Só que agora é o nosso pensado, construído com a realidade da nossa vida, nosso sofrimento, nossas conquistas é que mais tarde poderá ser modificado”.
Porém, temos que nos questionar enquanto educadores: como a escola é vista hoje pela família? Ela está preparada para receber e trabalhar a família no contexto escolar hoje? Principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento da aprendizagem dos seus alunos? É verdade que se pretende formar cidadãos, reflexivos, críticos e capazes de viver e conviver, de desenvolver-se e continuar aprendendo a participar interagir e trabalhar integralmente no seio da sociedade.
Para KRAMER, Esta reflexão tem que ser uma constante no meio escolar pois, “[...] a escola constantemente culpa a família pelos diversos problemas da criança – dificuldades afetivas à aprendizagem – isentando-se na maioria das vezes, de assumir o seu papel de ensinar. Com isso provoca maior afastamento justamente daquelas famílias que muito necessita da escola – as de classe populares”.
Não podemos negar que hoje, principalmente na rede municipal de ensino já existam projetos que procuram envolver a comunidade, família na escola, um exemplo, é o projeto em parceria com o Governo Federal denominado de “Escola Aberta à Comunidade”, sendo este colocado em prática sempre aos sábados, facilitando esta integração. Temos também em todas as escolas municipais, a figura do Orientador Educacional, que tem como uma de suas atribuições, fazer e ser o elo de ligação entre a escola e a família do educando.
Assim, percebe-se que existem escolas tentando diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz. Embora encontrem ainda escolas que o discurso está longe de uma prática mais efetiva e que até objetivam a integração da escola/família/comunidade, para que o desenvolvimento da aprendizagem do educando venha a ser satisfatório, para ambos os lados.

A EJA PEDE SOCORRO!

A educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil teve início com o trabalho de catequização realizado pelos Padres Jesuítas, no período Colonial. Com o avanço econômico e tecnológico, agregou-se: mão-de-obra, qualificação e escolarização do sujeito. Mas o que é a EJA? É uma modalidade de ensino que dá oportunidade a Jovens e Adultos; que não tiveram a oportunidade no período certo por motivos diversos, a buscar a erradicação do analfabetismo. Porque não se elimina este câncer social? Acredito que por falta de continuidade nas ações governamentais, falta seriedade e compromisso por quem está no comando, na esfera Federal Estadual e municipal.
Desde a revolução, na década de 30, até os dias atuais, o Brasil vem criando mecanismos (campanhas/programas/projetos) e estes são interrompidos, pois não são ações de “Estado” e sim de “Governo”. A Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), década de 40; A Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), década de 50; Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), década de 70; e A Educação de Jovens e Adultos (EJA) anos 90; são alguns exemplos, que nos remete à reflexão da atual situação da EJA que pede socorro em conseqüência de gargalos, que são muitos e vou enumerar alguns a seguir:
1 – A carga horária de professores da EJA em sua grande maioria é complementar; profissionais que não conseguiram fechá-la no ensino regular ou tem outro cargo (Estadual/Municipal) na educação, são lotados na EJA com esta finalidade. Está na hora de debater a dedicação exclusiva na educação. 2 – A falta de profissionais com perfil para trabalhar na EJA é outro problema. Ser professor na EJA não é para qualquer profissional, tem que ter o perfil adequado, pois a metodologia tem que ser diferenciada bem como a forma de relação professor/aluno. 3 – Na formação continuada tem que se procurar enfocar: metodologia, avaliação e relação professor/aluno de forma sistêmica, sendo o mais objetivo possível. Hoje as formações de professores é uma embromação; desmotiva mais do que motiva. 4 – O tempo de aula hoje é de três horas e meia, em seis meses. Estudar o conteúdo de um ano em seis meses é um contra senso. Não podemos encarar a EJA somente para objetivar a erradicação do analfabetismo, temos que ir além disso, formar cidadãos para o mercado de trabalho, para a vida em sociedade, com qualidade. Acredito que precisamos adequar o currículo da EJA à realidade de seus alunos, bem como o tempo, poderia ser diminuída para duas horas e estender para um período de um ano. 5 – A diferença de faixa etária é outro problema: jovens e adultos possuem comportamentos diferentes. Uma determinada prática de ensino pode ser eficaz na aprendizagem do adulto, mas não para o jovem e assim vice e versa. Temos que separar o jovem do adulto na EJA, pois são realidades bem diferentes, talvez aí esteja a causa do seu alto índice de evasão.
Percebe-se que mesmo com estes gargalos no sistema da EJA, o espaço escolar ainda é para estes sujeitos, em dos poucos espaços de socialização, interação e troca de experiências (culturas), e o professor da EJA tem e deve explorar esta relação social dos alunos. Paulo Freire no seu método de alfabetização visando à libertação dá um significado especial a esta relação professor/aluno: “Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educandos, uma relação de autentico dialogo. Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizadores assumem, desde o começo da ação, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem”.
Percebe-se que ainda estamos longe de alcançar a educação para todos, pois os governos precisam implantar políticas educacionais para EJA de “Estado” e não de “Governo”, que elas sejam integradas; que os professores juntamente com a escola elaborem projetos adequados e não copiem modelos prontos; que a sociedade possa contribuir sem discriminação e sim valorizando esta modalidade de ensino tão importante para a inclusão, desenvolvimento e integração do sujeito no meio social; que os alunos possam se sentir orgulhosos de serem estudantes da EJA, valorizando a oportunidade de estudar e ampliar os seus conhecimentos. Precisamos debater o ensino na modalidade EJA, tanto externo como internamente na escola, senão esta modalidade poderá estar com os dias contados, basta ir às escolas e perceber que o número de alunos matriculados está bem abaixo da ofertada pela rede pública. Alunos existem e os motivos pelos quais não se matriculam ou evadem são os gargalos antes enunciados. Governantes que estão à frente da educação, vamos dar a atenção e assistência que a EJA merece!